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terça-feira, 2 de agosto de 2016

Os Anais do I CIEPS



Desde 2008, a Incubadora de Iniciativas da Economia Popular e Solidária da UEFS (IEPS-UEFS) vem desenvolvendo suas atividades, como programa de extensão e projeto de pesquisa. Durante este período, o conhecimento produzido e as experiências compartilhadas, tanto com a comunidade quanto com o mundo acadêmico, têm se acumulado, tendo sido a intenção do I CIEPS - Congresso Internacional de Economia Popular e Solidária e Desenvolvimento Local: diálogo Brasil-Cuba apresentá-las de modo sistemático, a partir dos principais eixos temáticos desenvolvidos pela IEPS-UEFS.


De modo a proporcionar o encontro entre as diferentes visões acerca dos temas propostos, privilegiando tanto o olhar acadêmico quanto os saberes e experiências populares, as atividades do Congresso foram delineadas a partir de três grupos de trabalho.
No Grupo de Trabalho denominado Economia Popular Solidária e Desenvolvimento Local partiu-se da seguinte pergunta: quais são os caminhos para que a produção coletiva, sob os princípios e tipologias da Economia Popular e Solidária, conduza ao Desenvolvimento Local Solidário e, assim, à justa distribuição de um Bem Viver? Pretendeu-se, a partir desta questão, reunir pesquisadores, extensionistas e experiências produtivas ou organizativas que pensem concepções de Desenvolvimento Local que, diferentemente da perspectiva hegemônica tradicional, privilegiem a construção, ou reconstrução, de relações identitárias, orgânicas, que traduzam a cultura, o cotidiano, o entorno geográfico, os saberes e valores populares.
No Grupo de Trabalho denominado Incubação de iniciativas da economia popular e solidária: processo educativo de trabalho em espaços politico-pedagógico objetivou-se reunir pesquisadores, extensionistas e experiências produtivas ou organizativas que vivenciem ou reflitam acerca do processo de incubação enquanto espaço educativo-dialógico-político de organização da classe trabalhadora na perspectiva de uma outra Economia, que priorize as ações em redes de produção associada e o trabalho coletivo em tipologias como cooperativas, outras sociedades não empresariais, associações ou grupos informais.
Por fim, no Grupo de Trabalho Sociedade, Estado, Economia Popular e Solidária, partiu-se da constatação de que a Economia Popular e Solidária, apesar das dimensões que já ocupa e do contingente potencial de trabalhadores que pode atingir, ainda é uma economia considerada periférica que emerge de reações adversas às imposições do capitalismo globalizante. Suas práticas mantêm intensa relação com aspectos locais da cultura, do ambiente, dos arranjos sociais e políticos, assim como estão a exigir a construção de estratégias de educação e políticas públicas específicas, que vão na contramão do modo hegemônico de produzir, circular e dividir os bens resultantes do trabalho humano. Perguntava-se, então: qual o papel que assume o Estado neste contexto? O último Grupo de Trabalho reuniu, assim, pesquisadores, extensionistas e experiências produtivas ou organizativas que trouxeram à reflexão as relações entre Economia Popular e Solidária e as instituições políticas, políticas públicas, a Administração Pública, o Direito (marco legal da Economia Popular e Solidária, pluralismo jurídico, meios de solução de conflito e Economia Popular e Solidária).
Foram selecionados para apresentação tanto relatos de experiências de trabalho cooperado, ou de sua organização, trazidos por grupos de trabalhadores e trabalhadoras ou por entidades de fomento e apoio de tais iniciativas, quanto resultados de pesquisa ou extensão produzidos dentro dos padrões acadêmicos.
Os  Anais compõem-se, nesse passo, dos trabalhos efetivamente apresentados no Evento, em suas três modalidades:
i) versão escrita enviada pelos seus Autores e Autoras, em forma de artigos acadêmicos, de parte das comunicações orais efetivamente apresentadas nos Grupos de Trabalhos do Evento;
ii) resumos simples dos pôsteres apresentados;
iii) síntese dos relatos de experiência apresentados, no âmbito dos Grupos de Trabalho, por entidades de fomento e por trabalhadoras e trabalhadores da Economia Popular Solidária; neste caso, serviram de base para os textos que compõem este anais tanto as observações relatadas pelos coordenadores dos GTs, quanto as informações prestadas pelos grupos/entidades no ensejo da submissão da proposta à Comissão Científica do Evento.
A combinação entre as comunicações orais e os relatos de experiência renderam momentos ricos e instigantes, que comprovaram que o modelo não é apenas viável: ele se revelou uma metodologia muito profícua, demonstrando-se o quanto imprescindível é o encontro entre a visão acadêmica e a perspectiva do saber popular na busca de respostas para as questões enfrentadas pela Economia Popular Solidária.
I Congresso Internacional de Economia Popular e Solidária e Desenvolvimento Local: diálogo Brasil Cuba conseguiu reunir trabalhadores e trabalhadoras, extensionistas, pesquisadores, professores, professoras e estudantes de várias localidades da Bahia, do Brasil e da América Latina.
Foram ao todo aprovados para apresentação do I CIEPS 84 comunicações orais, 32 pôsteres e 28 relatos de experiência, de autoria de pesquisadores, estudantes, entidades e trabalhadores de diferentes regiões da Bahia, diversos Estados brasileiros e de outros países da América Latina (Cuba, Chile, Equador e México). Dos trabalhos aprovados foram efetivamente apresentados, durante os três dias do Evento, 55 comunicações orais (65,5%), 18 pôsteres (56,2%) e 17 relatos de experiência (60,7%).
Os números revelam por si, por um lado, o quanto exitosa foi a experiência do I CIEPS – especialmente tendo-se em conta que passamos hoje por graves restrições orçamentárias nas Universidades – e, por outro, em especial, o quanto as questões postas em seu temário instigam, preocupam e estimulam pessoas em busca de alternativas ao modo capitalista de produzir.
Uma síntese dos principais temas, conclusões e bandeiras de luta que são empunhadas no contexto do trabalho coletivo autogestionário e do desenvolvimento local, salientadas pelas coordenações dos grupos de trabalho a partir das discussões desenvolvidas nos Grupos de Trabalho, foram reunidas no documento que ganhou o nome de Carta do I CIEPS, que também integra estes Anais, e que elaboração foi prevista na metodologia do Evento porque se compreende o papel político da extensão e pesquisa universitárias.
Neste mesmo espírito, a grave crise institucional pela qual passa a já frágil Democracia brasileira também foi objeto de grande preocupação dos participantes do Evento, realizado justamente quando se concretizavam os arranjos políticos que conduziram ao início do processo de Impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, ainda em andamento.
Disto resultou a aprovação unânime, na sessão de encerramento do Congresso, realizada em 18 de março de 2016, da Moção de Repúdio à Tentativa de Golpe de Estado que também se faz publicar nestes Anais. Seu conteúdo, infelizmente, prenunciava os acontecimentos que ora vivenciamos com o afastamento da Presidenta eleita, retração do espírito e das políticas voltadas para a redução das desigualdades e das injustiças sociais e avanço dos interesses das bandeiras neoliberais e conservadoras em todos os campos, como a educação, saúde, reconhecimento de direitos dos povos tradicionais, igualdade de gênero, liberdade sexual, cultura e, em especial, na Economia Popular Solidária.
Este também é ensejo, assim, para reforçar o repúdio manifestado naquela ocasião e a necessidade de vigília na resistência das lutas populares.
O I CIEPS, como se vê, proporcionou aos participantes uma oportunidade de troca e produção de conhecimentos, de encontro entre o saber popular e científico e de diálogo alegre, respeitoso, engajado e frutífero entre pessoas que comungam da intenção de contribuir para um mundo mais igual, por relações de trabalho mais justas e solidárias, por uma vida regida por valores que nos aproximem da essência de ser humano.
A equipe da Incubadora de Iniciativas da Economia Popular Solidária da Universidade Estadual de Feira de Santana agradece a todos e todas que contribuíram para que isso fosse possível.
Deseja-se que a diversidade e riqueza dos textos revelem o espírito deste feliz Encontro, e que sirvam de inspiração para aqueles e aquelas que acreditam que há uma outra forma possível de se relacionar, produzir, trocar e construir a existência.


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