Vai até o dia 31 de agosto de 2020 o prazo para envio de artigos para o dossiê temático Trabalho coletivo autogestionário na América Latina: virtudes, fragilidades e ambiguidades das lutas por outros modos de reproduzir a vida, a ser publicado no v. 19, n.2, 2020 da Revista da ABET - Associação Brasileira de Estudos do Trabalho.
O dossiê tem como organizadores os/as Professores/as José Raimundo Oliveira Lima e Flávia Almeida Pita (IEPS-UEFS), Edson Caetano (UFMT), Ibrahin Anhed León Tellez (Universidad de Granma, Cuba) e Raúl Gonzalez Meyer (Universidad Academia de Humanismo Cristiano, Chile). Os/as proponentes deste Dossiê vêm caminhando juntos em projetos de pesquisa e extensão em torno das questões propostas e estiveram juntos/as no II Congresso Internacional de Economia Popular e Solidária e Desenvolvimento Local: como trabalhar e produzir na contramão doempreendedorismo?, realizado no campus da UEFS (Feira de Santana, Bahia), em maio de 2018. A configuração do grupo torna possível um mapeamento “norte a sul” da América Latina e pretende garantir a riqueza da multiplicidade de visões e de contextos próprio ao tema proposto (ver abaixo).
A Revista da ABET, periódico mantido pela Associação Brasileira de Estudo do Trabalho (ABET), tem como objetivo veicular estudos sobre o mundo do trabalho. Dada a abrangência e complexidade dessa temática, a compreensão dos distintos aspectos relacionados ao tema exige que as pesquisas contenham contribuições de pesquisadores de diferentes áreas, tais como Economia, Sociologia, Ciência Política, Direito, História, administração, Educação, Engenharia, Geografia, Demografia, Ciências da Saúde, entre outras. Requer, ao mesmo tempo, que a construção das abordagens teórico-metodológicas e empíricas caminhe na direção da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. A Revista da ABET foi lançada em 2001 com periodicidade semestral. É avaliada como A4 pela CAPES/2019 (Qualis Referência). Está indexada nas seguintes bases: DOAJ, Latindex, EBSCO, DRJI, Portal de Periódicos da CAPES.
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Comun. Quilombola de Lagoa Grande (FSA), abr. 2016 (acervo IEPS-UEFS) |
Por um lado, tais experiências têm sido apontadas como caminho para a construção e fortalecimento de relações econômicas e experiências de produção que contradizem a lógica hegemônica do capitalismo. Têm como traços característicos centrais, não obstante sua heterogeneidade, a organização de coletivos de trabalhadores que pretendem atuar de forma autogestionária, fora da lógica da exploração do trabalho pela apropriação da mais-valia, assumindo como valores centrais a solidariedade (em oposição ao individualismo e competitividade das práticas hegemônicas) e a ressignificação do trabalho como potencializador de uma vivência e uma subjetividade emancipadora e comunitária.
De outra mão, no quadro de crise da sociedade do trabalho[1], o discurso e as práticas da Economia Popular Solidária são muitas vezes compreendidas como consequências e cúmplices dos arranjos do capital na busca de alternativas para a absorção de um volume cada vez maior de trabalhadores inadequados ou expelidos do modelo de proletariado estável, este próprio em galopante destruição. Confundindo-se com o discurso e com as políticas que levam os seus signos, identificamos, por exemplo, elementos da “nova razão do mundo” neoliberal, marcadas pela generalização da ideia de concorrência como norma de conduta e da empresa como modelo de subjetivação[2].
Ainda sob outro prisma, o tema se conecta às tentativas de compreensão do trabalho no “subdesenvolvimento” – e para nós aqui importa, em especial, o mundo do trabalho na América Latina. As experiências que se têm sob mira coincidem em grande parte com outro conjunto conceitual multidenominado: Economia Invisível, Subalterna, Periférica, Popular, Setor/Mercado/Trabalho Informal, Informalidade. Se agora o mundo “desenvolvido” hoje também lida com a “Nova Informalidade”[3], para nós, latino-americanos/as, ela pode ser vista tanto como uma marca secular do desigual processo de distribuição de riquezas e de trabalho em sociedades marcadas pela espoliação colonial, quanto também aponta para formas de resistência e para a sobrevivência de modos de sociabilidade e de reprodução da vida que não se renderam totalmente à lógica da mercadoria e do valor (ressalte-se, como exemplo eloquente, as vivências alternativas de reprodução da vida[4] dos povos originários latino-americanos ou dos/as africanos/as escravizados).
O objetivo do Dossiê, assim, é reunir reflexões, preferencialmente interdisciplinares, que, a partir da pesquisa e da extensão, tangenciem esta parcela significativa do mundo do trabalho latino-americano, no intuito de, ao contribuir para a compreensão de suas experiências, também reunirmo-nos aos que buscam criar ou enlarguecer as fissuras que deixam entrever um “mundo que existe como ainda-não”[5].
[1] ANTUNES, Ricardo. O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2005.
[2] DARDOT, Pierre. LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
[3] PÉREZ-SÁINZ, J. P. Globalización y neoinformalidad en América Latina. Nueva Sociedad, Buenos Aires, n. 135, p. 36-41, jan./fev. 1995.
[4] AGUILAR, Raquel Gutiérrez. Horizontes comunitario-populares: producción de lo común más allá de las políticas estado-céntricas. Madrid: Traficante de Sueños, 2017.
[5] HOLLOWAY, John. Fissurar o Capitalismo. São Paulo: Publisher Brasil, 2013.
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