Desde 2008, a Incubadora de
Iniciativas da Economia Popular e Solidária da UEFS (IEPS-UEFS) vem
desenvolvendo suas atividades, como programa de extensão e projeto de
pesquisa. Durante este período, o conhecimento produzido e as experiências
compartilhadas, tanto com a comunidade quanto com o mundo acadêmico, têm se
acumulado, tendo sido a intenção do I CIEPS - Congresso Internacional
de Economia Popular e Solidária e Desenvolvimento Local: diálogo Brasil-Cuba apresentá-las
de modo sistemático, a partir dos principais eixos temáticos desenvolvidos pela
IEPS-UEFS.
De modo a proporcionar o encontro entre
as diferentes visões acerca dos temas propostos, privilegiando tanto o olhar
acadêmico quanto os saberes e experiências populares, as atividades do
Congresso foram delineadas a partir de três grupos de trabalho.
No Grupo de Trabalho denominado Economia
Popular Solidária e Desenvolvimento Local partiu-se da seguinte
pergunta: quais são os caminhos para que a produção coletiva, sob os princípios
e tipologias da Economia Popular e Solidária, conduza ao Desenvolvimento Local
Solidário e, assim, à justa distribuição de um Bem Viver? Pretendeu-se, a
partir desta questão, reunir pesquisadores, extensionistas e experiências
produtivas ou organizativas que pensem concepções de Desenvolvimento Local que,
diferentemente da perspectiva hegemônica tradicional, privilegiem a construção,
ou reconstrução, de relações identitárias, orgânicas, que traduzam a cultura, o
cotidiano, o entorno geográfico, os saberes e valores populares.
No Grupo de Trabalho denominado Incubação
de iniciativas da economia popular e solidária: processo educativo de trabalho
em espaços politico-pedagógico objetivou-se reunir pesquisadores,
extensionistas e experiências produtivas ou organizativas que vivenciem ou
reflitam acerca do processo de incubação enquanto espaço
educativo-dialógico-político de organização da classe trabalhadora na
perspectiva de uma outra Economia, que priorize as ações em redes de produção
associada e o trabalho coletivo em tipologias como cooperativas, outras
sociedades não empresariais, associações ou grupos informais.
Por fim, no Grupo de Trabalho Sociedade,
Estado, Economia Popular e Solidária, partiu-se da constatação de que
a Economia Popular e Solidária, apesar das dimensões que já ocupa e do
contingente potencial de trabalhadores que pode atingir, ainda é uma economia
considerada periférica que emerge de reações adversas às imposições do
capitalismo globalizante. Suas práticas mantêm intensa relação com aspectos
locais da cultura, do ambiente, dos arranjos sociais e políticos, assim como
estão a exigir a construção de estratégias de educação e políticas públicas
específicas, que vão na contramão do modo hegemônico de produzir, circular e
dividir os bens resultantes do trabalho humano. Perguntava-se, então: qual o
papel que assume o Estado neste contexto? O último Grupo de Trabalho reuniu,
assim, pesquisadores, extensionistas e experiências produtivas ou organizativas
que trouxeram à reflexão as relações entre Economia Popular e Solidária e as
instituições políticas, políticas públicas, a Administração Pública, o Direito
(marco legal da Economia Popular e Solidária, pluralismo jurídico, meios de
solução de conflito e Economia Popular e Solidária).
Foram selecionados para apresentação
tanto relatos de experiências de trabalho cooperado, ou de sua organização,
trazidos por grupos de trabalhadores e trabalhadoras ou por entidades de fomento
e apoio de tais iniciativas, quanto resultados de pesquisa ou extensão
produzidos dentro dos padrões acadêmicos.
Os Anais compõem-se, nesse passo,
dos trabalhos efetivamente apresentados no Evento, em suas três modalidades:
i) versão escrita enviada pelos seus
Autores e Autoras, em forma de artigos acadêmicos, de parte das comunicações
orais efetivamente apresentadas nos Grupos de Trabalhos do Evento;
ii) resumos simples dos pôsteres
apresentados;
iii) síntese dos relatos de experiência
apresentados, no âmbito dos Grupos de Trabalho, por entidades de fomento e por
trabalhadoras e trabalhadores da Economia Popular Solidária; neste caso,
serviram de base para os textos que compõem este anais tanto as observações
relatadas pelos coordenadores dos GTs, quanto as informações prestadas pelos
grupos/entidades no ensejo da submissão da proposta à Comissão Científica do
Evento.
A combinação entre as comunicações
orais e os relatos de experiência renderam momentos ricos e instigantes, que
comprovaram que o modelo não é apenas viável: ele se revelou uma metodologia
muito profícua, demonstrando-se o quanto imprescindível é o encontro entre a
visão acadêmica e a perspectiva do saber popular na busca de respostas para as
questões enfrentadas pela Economia Popular Solidária.
O I Congresso Internacional de
Economia Popular e Solidária e Desenvolvimento Local: diálogo Brasil Cuba conseguiu
reunir trabalhadores e trabalhadoras, extensionistas, pesquisadores,
professores, professoras e estudantes de várias localidades da Bahia, do Brasil
e da América Latina.
Foram ao todo aprovados para
apresentação do I CIEPS 84 comunicações orais, 32 pôsteres e 28 relatos de
experiência, de autoria de pesquisadores, estudantes, entidades e trabalhadores
de diferentes regiões da Bahia, diversos Estados brasileiros e de outros países
da América Latina (Cuba, Chile, Equador e México). Dos trabalhos aprovados
foram efetivamente apresentados, durante os três dias do Evento, 55
comunicações orais (65,5%), 18 pôsteres (56,2%) e 17 relatos de experiência
(60,7%).
Os números revelam por si, por um lado,
o quanto exitosa foi a experiência do I CIEPS – especialmente tendo-se em conta
que passamos hoje por graves restrições orçamentárias nas Universidades – e,
por outro, em especial, o quanto as questões postas em seu temário instigam, preocupam
e estimulam pessoas em busca de alternativas ao modo capitalista de produzir.
Uma síntese dos principais temas,
conclusões e bandeiras de luta que são empunhadas no contexto do trabalho
coletivo autogestionário e do desenvolvimento local, salientadas pelas
coordenações dos grupos de trabalho a partir das discussões desenvolvidas nos
Grupos de Trabalho, foram reunidas no documento que ganhou o nome de Carta
do I CIEPS, que também integra estes Anais, e que elaboração foi prevista
na metodologia do Evento porque se compreende o papel político da extensão e
pesquisa universitárias.
Neste mesmo espírito, a grave crise institucional pela qual passa a já
frágil Democracia brasileira também foi objeto de grande preocupação dos
participantes do Evento, realizado justamente quando se concretizavam os
arranjos políticos que conduziram ao início do processo de Impeachment da
Presidenta Dilma Rousseff, ainda em andamento.
Disto resultou a aprovação unânime, na
sessão de encerramento do Congresso, realizada em 18 de março de 2016, da Moção
de Repúdio à Tentativa de Golpe de Estado que também se faz publicar
nestes Anais. Seu conteúdo, infelizmente, prenunciava os acontecimentos que ora
vivenciamos com o afastamento da Presidenta eleita, retração do espírito e das
políticas voltadas para a redução das desigualdades e das injustiças sociais e
avanço dos interesses das bandeiras neoliberais e conservadoras em todos os
campos, como a educação, saúde, reconhecimento de direitos dos povos
tradicionais, igualdade de gênero, liberdade sexual, cultura e, em especial, na
Economia Popular Solidária.
Este também é ensejo, assim, para
reforçar o repúdio manifestado naquela ocasião e a necessidade de vigília na
resistência das lutas populares.
O I CIEPS, como se vê, proporcionou aos
participantes uma oportunidade de troca e produção de conhecimentos, de
encontro entre o saber popular e científico e de diálogo alegre, respeitoso,
engajado e frutífero entre pessoas que comungam da intenção de contribuir para
um mundo mais igual, por relações de trabalho mais justas e solidárias, por uma
vida regida por valores que nos aproximem da essência de ser humano.
A equipe da Incubadora de Iniciativas
da Economia Popular Solidária da Universidade Estadual de Feira de Santana
agradece a todos e todas que contribuíram para que isso fosse possível.
Deseja-se que a diversidade e riqueza
dos textos revelem o espírito deste feliz Encontro, e que sirvam de inspiração
para aqueles e aquelas que acreditam que há uma outra forma possível de se
relacionar, produzir, trocar e construir a existência.
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